19.10.06

Imaginação, Fantasia ou Realidade?

Saímos uma noite para pescar
Eu e meu irmão Edson, podem acreditar
Levamos para comer, arroz com frango e salsicha
Bem feitinho pela mamãe, dentro da marmita.

Eu, com o catarro escorrendo até o chão
O Edson, com cem quilos de terra, na unha da mão
Quando chegamos ao rio Tuboi, doidinhos para pescar
Vimos uma cena de fazer qualquer coração parar.

Escondido atrás de uma quiçaça, vocês não vão crer
Lá estava brigando, o Curupira, o Lobisomem e o Saci Pererê
Corremos rio acima, no maior desespero
Demos de frente com o Negrinho Pastoreio
E tropeçamos no vestido da Loira do Banheiro.

Fomos perseguidos pelo Barba Ruiva e pelo Boi Tatá
Ai, que noite de “amargá”
Fomos intercedidos pela Mãe d’água Yara
Com seu lindo corpo e pele clara
Que namorava o Papa Figo, nas margens do rio acima
Acredite, nós vimos o forébis dela, branca e macia.

O Curupira acusava o Saci, de maltratar os animais
O Saci com medo, queria minha perna para correr mais
O Negrinho Pastoreiro chorava e xingava a toa
A Loira pedia para tirarmos o algodão de sua boca.

O Barba Ruiva blasfemava baixarias mil
O Lobisomem nos mostrava seu dente canil
E comigo, o Boi Tatá encardiu
A Mãe D’água Yara tentava mas nada podia fazer
E o Papa Figo, apaixonado, não queria se intrometer.

Até que meu irmão, fez algo de arrepiar
Ele avistou uma Mula sem Cabeça, por ali a pastar
Com a linha da varinha conseguiu a enlaçar
Montamos em sua costa e saímos a galopar.

Essa aventura eu guardo no coração
Saudade de minha infância, qual não esqueço mais não
Os bichos de hoje parecem mais ferozes
Atacam nossas crianças e são mais algozes.

Não oferecem a elas, balas, pipas, pião e alegrias
A telinha oferece vídeo game, traição e baixarias.

Sinto saudade dos medos de minha infância
Dos medos que brotavam da minha imaginação de criança
Hoje, o medo nasce a cada tiro na esquina
A maldade e a perversão são coisas da rotina.

Prefiro o meu medo infantil do Saci
Do que da briga de pai e filho que ontem vi
Prefiro meu medo infantil do Lobisomem
Do que a maldade do bicho homem.

Prefiro a ajuda da saudosa Mula sem Cabeça
Do que a ajuda daquele amigo que tem uma escopeta
E apesar do Curupira que tinha os pés para traz
Andava para frente, diferente do que o homem hoje faz.

Prefiro o medo do Papa Figo e da Loira do Banheiro
Do que as leis do governo, que põem o povo em desespero
Prefiro meu medo de criança dói Boi Tatá e do Barba Ruiva
Pois fazem menos mal, do que o político de barba escura.

Só não sinto falta do Pastoreiro Negrinho
Que lembra nossa podre história de racismo
Que a pigmentação da pele vale mais que as condutas
Pois homem branco também mata e deixa de calças curtas.

Há saudade de meus medos de criança,
Eles sim, guardarei com prazer na lembrança.


Wagner de Almeida Posso.

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